domingo, agosto 13, 2006

Nóis sofre, máis nóis goza!

Ouviram do Ipiranga um não sei quê
Se era a Liberdade foi mentira
Porque já me dizia Zé de Lira:
“Brasileiro nasceu para sofrer,
Viver sem sonho, coito e sem dendê
Fazendo disso a vida cor-de-rosa.
Enquanto o americano feliz posa
Para primeira capa do jornal”.
E por isso já lanço o quebra-pau:
Que por aqui, NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

Nesse Brasil já todo mal prendado,
Eu também deixo a minha besta prenda
Que se não és ladrão, ligeiro aprenda
E vá se transformar em deputado.
Também se já quiseres o senado,
Hás de bem estudar a boa prosa
Ou engatar na rima essa tal glosa
E se tornar também o presidente
Para logo empregar algum parente.
Que por aqui: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

Como o poeta disse: sertanejo
Quando do cafundó pra capital
Viaja com doença e passa mal
Só traz no matulão o seu desejo
Porém na capital só tem despejo
E quer morrer a vida valorosa
Com sede, fome, só tem rebordosa,
E vai pruma favela ser feliz.
E no costume, pensa logo e diz:
Que por aqui, NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

Com mais de mil mudanças sociais
Surgem novos trejeitos para o povo.
Boiola não é assim algo de novo
(Pois metrossexual se amostra mais).
Agora o pessoal recebe mais,
E se torna mulher linda e charmosa.
O parreco já é todinho rosa
Porque não sabe mais a sodomia
E, as hoje, elas, cantam todo dia
Que por aqui: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

As mulatas quebrando seus culotes
Deixam os machos lesos pra chuchu.
Não sabem as mulatas que o lundu
Danou por cá bem mais que qualquer xote
Pra bem assim eu pôr verso no mote
Que mulata diz “mula da danosa”
Em agüentar chibata tão penosa.
Mas com bravura, luta e muita raça,
O povo vive e solta a sua graça:
Que por aqui: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

A mulher quase tem o seu direito
Mas o homem inda é o seu patrão.
Ele é bruto, grosso e dá carão
Ganha mais e não faz nada bem feito
Ela pensa: que tudo tem seu jeito.
O marido não bate boa prosa
Mesmo assim ela veste cor vistosa
Mas o cabra só quer saber de si
E na cama a pobre pensa assi:
Que por aqui: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

O brasileiro é feito peido insosso:
Diz o que almoça, mas não sente o gosto.
Esse peido só sai a contra-gosto
Porque quer sair antes do tal Grosso
E por mais de tratar em ser mau moço
No cagador arrocha mão dengosa
E o cu sem ter conversa desejosa
Vai se rasgando pelo rego afora.
E co’essa puta dor, o cu nos chora:
Que por aqui: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

Num mundo de cobiça como o nosso
Pro Brasil, lá da Paris atrativa,
Chegou a Teoria Positiva
Que nos maltratou sem se ter remorso
E o burguês disse que nesse tal troço
“Ordem e progresso” é que era bondosa
Frase para a nação ficar famosa
E desenvolver com atividade.
Mas digo que em vez dessa inverdade,
Se escrevesse: NÓIS SOFRE, MÁIS NÓIS GOZA!

Recife, 18 de junho de 2006

quarta-feira, agosto 09, 2006

Bush, o Papa e Severino Cavalcanti

"Bush, o Papa e Severino Cavalcanti" - Esse cordel foi lasca. Até hoje me pergunto se coloquei muito palavrão... A intenção foi estar por dentro do que acontecia no Brasil e no mundo; escancarar de forma ridícula e grosseira as mazelas sociais atuais. Três personagens do cenário cotidiano. Três nomes altos naquele tempo. A morte de João Paulo II serviu como pano de fundo para a esquematização do roteiro. Fiz um Bush (sempre rimando com o refrigerante Crush, pela comicidade e crítica) semelhante ao diabo e Severino Cavalcanti, recheado de ingenuidade. Quis que ele parecesse um pouco com o Macunaíma, de Mário de Andrade. Não pareceu tanto, mas a ingenuidade, talvez, soube refletir o perfil do brasileiro, sempre desprotegido e humilhado. Aí está um cordel-escroto, assim prefiro chamá-lo. Algo muito diferente dos outros folhetos que escrevi."


Quando Jão Palo morreu
O mundo todo chorô
Foi aquele triste mote
Que ninguém mermo gostô
Foi véio e jove sofrendo
Cristão e judeu sabendo
Que um home bom nos deixô.

Foi muita reza pro Papa
Que pra gente já é santo
Muita vela, muito terço
Que num sei pra quê de tanto
Foi somente um home morto
E o mundo ficou foi torto
Sem ter bom acalanto.

A notícia mudou tudo
No Brasil foi feriado
Mas só pra seus mil político
Que num sabe o que é enfado
Fôro tudo pra fazenda
Dos seus imposto de renda
Que nunca fôro cobrado.

E lá nas Zoropa tava
O povo chei de aflição
Iam enterrá o Papa
Como todo bom cristão
Na paróquia de São Pêdo
Sem ninguém ter qualquer medo
Daquele triste corão.


Mas pra todo mundo isso
Foi mote pr’aparecê
Os político do mundo
Dero tudo em se benzê
Saíro pro Vaticano
Sem saber do seu fulano
Que tava no s’escalê.

E saiu gente do mundo
Logo pr’esse Vaticano
Turista, professô, padre,
Bebo, rico e Zé Sicrano
Todo mundo q’ria vê
O Sumo Papa valê
A fé de Deus no seu plano.

E chegando na basílica
Gente era só o que tinha
Todo mundo na calçada
Rezando sempre na linha
Té que chegou um nanico
Cum mala, cama e pinico
Dizendo a ladainha:

- Viva seu apostolorium
O Sumo Papa seu Jão!
E o povo todo medonho
Desintalou seu refrão
Repetindo o versejado
Daquele malamanhado
Feio, cabeçudo e anão.

Foi aí que num estrondo
Numa fumaça chegô
Um vulto lambido e chocho
De paletó no HELLO
Falou pro feio pirrito
Se ele q’ria pirulito
Pra fazer pra ele um shô.

O pobre andou mofino
E disse ser retirante
E que vinha do Brasil
Pra ver o Papa adiante
Chegô bem perto do home
E lhe falou seu tal nome:
Severino Cavalcanti.

O home de paletó
Fez cara de trambiqueiro
Porque o pobre era bestão
Ainda mai brasileiro
Pensou: Esse tá fudido
Vou explorá seu franzido
Pra me enchê de dinheiro

E Severino alezado
Caiu na prosa do chocho
Assinou papé sem lê
E se danou no seu cocho:
- Seu anão, tu é burrinho
Pois nesse meu caderninho
Diz que é meu o teu aro frouxo!

Nesse instante, o chocho disse
Sou dono do teu furico
Vou alugar teu negócio
Pra mim ficar bem mais rico
O meu nome é Dabliu Bush
E adoro tomar é Crush
Quando vou molhar o bico.

Severino ficou doido
Cum tal acontecido
Aquele gringo cibito
Manda já no seu franzido
Que lhe quer o cabaço
Pensou logo no regaço:
Nesse vou botar gemido.

Eles fôro prum bequinho
E Severino tremeu
Abaixou sua caçola
E seu franzido encolheu
Bush todo securento
Botou pra fora o jumento
Que loguinho endureceu.

Bush pensou ligeirinho:
Vou fudê logo o Brasil
Afundar minha jupenga
Nesse rabo de funil
Porque se num faço já
Alguém vai me vim falá:
Vá pra puta que o pariu!

Ele pegou com cuidado
O botão do miseráve
Alisou bem de mansinho
Pra botá muito no grave
Só que o triste meteu pé
Pensou: num sou Zé mané
E s’escondeu no Conclave.

Severino viu os home
Tudo de um tal de quipá
Eles eram cardeal
E tavam lá pra votá
Num novo e santo papado
Pra reger o comungado
Nos anos que vêm pra já

Severino se vestiu
Daquela longa batina
Num tava pra cardeal
Tava um galo de campina
Mas ali ficou de prosa
E co’s home meteu glosa
Com conversa mei traquina.

Falou do nordeste triste
Que o Brasil há tempo tinha,
Falou de João Alfredo
Sua cidade-mainha
E na tristeza da fome
Tinha gente que lhe some
Mais miséria duma tinha.

Os cardeal se calaro
Tivero pena do anão
E num gesto muito simples
Se fizeram bons cristão
Votaro nele pra Papa
Um véio morto de tapa
Era agora o seu chefão.

Então ‘ma nuvem branquinha
Da capela escapuliu
O povo gritou feliz
E ele na praça se viu
E um home lhe perguntou
Seu novo nome pro show
E o Papa logo seguiu:

- Eu sou cabeçudo e anão
Vim do mato sem covil
Passei fome, dei o cu
Mas num deixo meu Brasil
E pra agora tenho nome
Pro mundo que me consome
Quero ser o Papa Biu

Os cardeal preguntaro:
- Que nome é esse, Sinhô?
E o novo Papa lhes disse
Qu’era um nome lutadô
- Mas num pode um nome assim
- Tem que ser nome em latim
Pra num cair o andô

- Cale a boca, cardeal,
Porque eu sou a santidade
Faço qu’eu quero fazê
Pois tamém, sou otoridade
Foi nisso que apr’eceu Bush
De novo tomando Crush
Co’o papel da castidade.

Ei, Papa, eu sou o papa-cu
Vim cumê o seu furico
E antes que o sinhô se avexe
Vou lhe metê o meu bico
Passe logo pr’adiante
Severino Cavalcanti,
Essa roda de jerico.

O Papa mirô pra ele
Todo chei de danação
Isso aí tá Severino
Eu num sou mais ele não
O meu nome é Biu Primeiro
Santo Papa brasileiro
Vou salvá o meu sertão!

Dabliu Bush ficou besta
Mas logo deu-se no risco
Vou lhe ajudá, Papa Biu
Disse como pinto em cisco
Faça coisa de louvô
Ajude o povo c’amô
Como disse São Francisco.

E como Papa quis luta
São Francisco me dá luz
E nisso Biu teve sorte
Chico vai trazê cuscuz
Vou mudar o rumo dele
O rio vai fazê L
Pr’ajudá com muita juz.

E nisso Bush chegou
Cuns papel pr’ele assiná
Biu talhou forte o refrão:
O meu cu eu num vou dá
E Bush disse ligeiro:
Num tem nada de brejeiro
Pro sinhô se preocupá

E Biu assinou sem lê
- Home besta é mermo foda!
Agora o Brasil todim
É que tá dando s’a roda
E Bush deu cum dendê:
- Vou dançá bundalelê
Que aqui qualquer merda é moda.

E assim deu-se c’a moléstia
Brasil nem cum santo vai
Papa Biu foi logo expulso
Por fazê merda demai
Agora Bush faz tudo
E todo mundo tá mudo
Que nem casa de carai!

Recife, 21 de junho de 2005